segunda-feira, 18 de julho de 2011

A vida profissional (re) começa aos 40

(Jornal da Tarde - Empregos -16.02.09)

Empresas estão valorizando experiência no trabalho e na vida para mesclar talentos. Por mais que os novatos esbanjem garra, disposição em alto nível e muita energia para a execução das tarefas no dia-a-dia das empresas, eles não têm a mesma maturidade e a desenvoltura que os quarentões ou cinquentões dispõem para enfrentar os episódios de forte tensão do dia-a-dia.
Cientes disso, muitas empresas estão agindo para recolocar no mercado esses profissionais de vasta experiência agregada, em uma forma de alcançar o equilíbrio com os empregados juniores, aumentando a qualidade e quantidade dos negócios.
“Valorizar as pessoas com mais idade significa contribuir com a sociedade e com os nossos objetivos”, afirma Paulo Neto, presidente da Dedic, empresa de contact center do grupo Portugal Telecom, que criou em 2008 o ‘Retorno ao Trabalho’.
Com esse programa, a companhia já capacitou - de forma gratuita - 200 profissionais com mais de 40 anos, que estavam afastados do mercado, para atuar no segmento de relacionamento com o cliente.
Ao longo do curso de um mês, os participantes assistem a aulas de Português, informática e introdução às ferramentas que serão utilizadas no novo trabalho.
“Os interessados em participar da seleção devem entrar em contato com a área de recrutamento da Dedic (selecao.sp@dedic.com.br)”, diz Neto, que espera contratar mais 400 empregados este ano. “Outros 50 já estarão trabalhando até o fim deste mês.”
Segundo ele, os resultados obtidos com os novos contratados sêniors são bastante valiosos. “Essas pessoas faltam menos, são mais comprometidas, contribuem com energia no ambiente de trabalho, possuem maior estabilidade emocional e têm mais experiência nas relações  interpessoais. Misturá-las aos jovens é algo muito salutar para a empresa.”
Motivação
Seis anos longe da área de atendimento ao cliente, Ângela Morales foi aprovada em outubro último no processo de retorno ao trabalho da Dedic para atuar como operadora de telemarketing. Função que, para ela, é executada com enorme prazer.
“Estou amando tudo isso, sempre aprendendo coisas novas e também ensinando”, conta a senhora de 49 anos. “Me dou bem com todos, sou uma mãezona para os mais novos e sinto-me empolgada para conquistar novos objetivos. Fazer um curso universitário é uma de minhas metas”, diz Ângela.
Outro exemplo de garra e motivação por ter conseguido retomar à rotina de trabalho é visto em Terezinha Donizete Silva, que opera máquinas copiadoras no fórum da BarraFunda, em São Paulo. Aos 43 anos, ela foi aprovada no projeto ‘Sábios Talentos da Simpress’, empresa de soluções de impressão (www.simpress.com.br). “Fiquei oito anos afastada do mercado e tinha vergonha até de sair de casa”, conta.
A chance de recomeçar a vida profissional, segundo ela, a fez se sentir importante novamente. “Fiquei muito motivada, além de disposta a retomar meu curso de computação e fazer aulas de inglês. No trabalho, fui bem recebida pelos mais novos e adorei poder contribuir no desenvolvimento deles. Mal sinto as horas passarem quando trabalho”, declara entre risos.
Para Vittorio Danesi, diretor presidente da Simpress, não houve dificuldade para adaptar os 28 contratados às tecnologias da atualidade durante a primeira edição do projeto.
“Nossos ‘quarentões e cinquentões’ são espertos e demonstram enorme vontade de aprender”, afirma. “Até o fim do ano devemos admitir cerca de 45 novos experientes por meio do programa.”
Além da atualização profissional, os contratados mais velhos da Simpress contam com benefícios como assistência médica e odontológica, vale-refeição, seguro farmácia e participação semestral nos lucros, além de campanhas internas de integração.
Estratégia da prosperidade
Embora muitos profissionais encontrem dificuldades para manter o emprego ou conseguir novas oportunidades em função da idade avançada, outra grande parcela da camada dos trabalhadores experientes segue ativa e atuante independente dos longos anos de vida que carregam no currículo.
Celio Otakara, 50 anos, engenheiro mecânico, jamais se desligou de sua área. “O amplo conhecimento do trabalho e a falta de mão-de-obra qualificada são alguns dos fatores que mantêm acesa a chama da minha carreira”, afirma. A constante atualização, bem como a ousadia para arriscar novos desafios - em vez de ‘estacionar’ em uma única empresa - também contribuem para sua credibilidade no setor. “A possibilidade de ser despedido sempre existirá. Por isso, cabe a nós incorporar qualidades e soluções para permanecer bem visto no cenário trabalhista”, diz. Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), lembra que, “com o envelhecimento da população, as pessoas permanecem produtivas por mais tempo no mercado de trabalho”. Para se enquadrar a essa realidade moderna, é preciso estar disposto a mudar e não se acomodar. “Atualização constante é o primeiro passo, principalmente no que diz respeito a tecnologia e línguas estrangeiras. Sem o desenvolvimento intelectual não se consegue nada, seja qual for a idade”, diz.
Para Rita Passos, diretora de comunicação da ABQV, cuidar da saúde física e mental também é muito importante para retardar as ‘rugas’ da carreira. “Fazer exercícios e aulas de relaxamento e reflexão, como ioga, aumenta a serenidade e revigora a autoestima. Cuidar do visual é outro ponto crucial, assim como transmitir segurança no ambiente de trabalho. Aos 49 anos, Rita diz que não adianta tentar concorrer com os mais jovens. “O ideal é saber aproveitar a experiência - na profissão e na vida - para atuar em áreas que envolvam opinião, como consultoria.”
Sem pânico
Não há idade para começar ou recomeçar a vida profissional. Mesmo assim, é preciso estar bem preparado para o caso de demissão e a necessidade de buscar um novo emprego. “Mantenha a cabeça fria. Não adianta olhar para o problema, mas pensar em uma solução para ele”, adverte Rita. “O planejamento financeiro é o segundo ponto, devendo abranger os gastos que você terá ao longo do ano e aquilo que poderá ser enxugado do orçamento. Na caça do emprego, não seja orgulhoso e evite pensar apenas nos altos cargos. A hora é de aproveitar o que surgir”, orienta.
Autora do livro Empregabilidade Acima dos 40 Anos, Maria Bernadete Pupo acredita que todos devem se preparar para o desemprego, tendo, no mínimo, dois planos em sua carreira: um de desenvolvimento, para se manter na empresa, e outro de serviço autônomo, para o caso de perder o emprego. “O trabalhador precisa ter uma atividade alternativa, algo que o faça garantir um rendimento extra”, afirma a professora da Fundação Instituto de Ensino para Osasco (Fieo).
“Dê preferência para fazer coisas que lhe agradem. Se gosta de mexer com artesanato, comece fazendo algumas peças, compre revistas especializadas, consulte lojas, descubra fornecedores e ouça seus amigos. Se é contador, pense em iniciar prestação de serviços para micro e  pequenas empresas. Pode ser o início de um grande negócio”, sugere. Como diz o ditado popular, “mais faz quem quer do que quem pode”. A idade é um mero detalhe e não um limitador.
COMO SE INSERIR DEPOIS DOS 40
·         Torne-se vendedor de si próprio, aja com persuasão
·         Mantenha o seu ‘produto’ atualizado, preparando-se para enfrentar as novas condições econômicas, revisando a autocapacitação
·         Utilize a rede de amigos para recolocar-se no mercado (networking)
·         Encontre fontes de inovação, estimulando a visão de novas oportunidades
·         Aceite as novas formas de trabalho, as quais passam por redefinições profundas, como contrato temporário, de tempo parcial, de prestação de serviços, trabalho por projetos etc.
·         Mantenha o entusiasmo e a energia, buscando fazer aquilo que lhe dá prazer
·         Seja mais ousado e se predisponha a assumir riscos, buscando o equilíbrio para não transformar a luta por novas oportunidades em sofrimento (equilíbrio emocional)
·         Cuide da aparência e saúde, pois inúmeros cargos dentro de uma organização valorizam esses fatores
·         Tenha seu objetivo profissional bem definido antes de sair a campo em busca de uma colocação Elabore um portfólio profissional adequado com foco na área em que pretende atuar
EXPERIÊNCIA
Flexibilidade para se relacionar com pessoas e para negociar. No setor de serviços, o mais experiente é muito requisitado. Aptidão para assumir postos que, em outras ocasiões, exigiriam treinamento prévio para pessoas mais jovens. Transmissão de conhecimentos para os mais jovens. Os setores industrial e fabril estão adotando essa prática, devido à dificuldade com qualificação profissional. Oportunidade para os empregadores reduzirem custos com encargos sociais, contratando-os por projetos, como prestadores de serviços, entre outras opções.

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